sábado, 31 de dezembro de 2011

Um poema de brinde...

Foto: Vera Marques

Perdi as contas
(dedicado aos amigos)



importa
a quantos
pés viajamos?


a velha vida
em pane
porta
o aéreo plano: 


para quedas         
por todo               
novo ano!




(Cris de Souza)

Aerolinhas arrojadas

decolam
das pistas
na palma da mão
para um novo ano
poético.



Destino seguro não há,
escala ou conexão,
mas se falhar o para-quedas
da emoção... Deixe estar!
Acione o reserva, a imaginação.







* Verdade que desejo a todos um dardejante dois mil e doze! Beijos e beijos.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Poemas sem papas na língua...


 (Magritte, Sheherazade)


No colo das águas cálidas



ouça: num dom
que não sei nomear
o mar
ao penetrar a ostra
pérola a mostra



Desde a primeira estação



plantei papoila
sem saber que era

sem saber quimera
fosse primavera

- ai, dar-te quem dera!



A presa tem pressa?


conjugo a cobiça
que eriça a serpente
na língua do ventre



Letra sem vergonha


sei o que é desejo
- diz o verso
é quando a rima
quer fazer sexo
com o leitor! 



(Cris de Souza)


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Concerto(cantos noturnos para violinos)

(Foto:Pedro Olivença)




Vila Velha



falo de um tempo
onde a chuva marca
a vidraça escusa


e a noite é lida
na vila
por velha coruja








De longe vejo



nem passa perto

da minha alma

em desassosego,

chegar a ponto
de fingir a calma      

a que não chego.






Entre traços e traças


olho por olho,
força-me a retina;
dente por dente,
     fura-me a rotina;
passo por passo,
faço-me a revista;
folha por folha,
perco-me de vista.



(Cris de Souza)



(Ann Fontanella)

domingo, 13 de novembro de 2011

Haicais de cór e salteado


Verso em órbita

o poeta orbita
em torno da pauta
como um astronauta!



Na ponta da língua

bafo da onça 
pintada na língua                  
em ponta de lança   



Em peregrinação

caminham as tintas
tocando nas cítaras:   
lira peregrina



Crocodilagem

no lago do idílio
só lágrimas
de crocodilo?



Analogia de noite e dia

o silêncio recorda 
vogais das nossas
cordas vocais 


(Cris de Souza)


(janis joplin, down on me)

sábado, 5 de novembro de 2011

O Cerco

(Foto: Verônica Spnela)



 com o cuidado

das aranhas

teço tuas linhas

em minhas tramas



 (Cris de Souza)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Trilogia num piscar de letras...


Poema do peito


Suspeitas da cena
Ao abrir a janela
Do poema                       

Vigias o verso
Que te acenas
Para dentro do peito?

- Parapeito de açucena!

(Não teima nem tema)




 Lira a la Bilac

     
     Ai do poeta     
desdizer
estrelas:

Via láctea
de letras!



Linha lendária


versus
pégasus

 

 (Cris de Souza)


(secos & molhados, fala)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Haicais pelo andar da carruagem...

Varinha sem condão

sonho às favas!
- soam mil sapos
num só conto de fadas


Feito a fantasia

a lágrima do pierrô
na pele da colombina:
pode virar purpurina?


No meio dos madrigais

até pirilampo cai
no campo
do amor-relâmpago!


Cor de abóbora

Doze badaladas:
Desperta dor
De trem fantasma


O giz faz cera?

o poeta – aprendiz!
assina em branco
o que colore a giz


(Cris de Souza)


(O Poeta aprendiz- canção de Vinícius e Toquinho cantada e ilustrada por Adriana Calcanhoto)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Trilogia que dá na telha

Expiação



O meu Eu lírico
Não perde tempo a sós:                  
Anoitece com a coruja,
Amanhece com o albatroz.



Vira-verso 


Verso veloz
Por entre
As avezinhas
Dando asas
As vozes vizinhas!



Expectativa


O silêncio do besouro
Vale ouro
No mercado negro?



(Cris de Souza)


 (Secos e Molhados, Delírio)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um poema reparado nas redondezas



Prelúdio ao refúgio 

 


Vela ao léu 
Por azular? 
-  Noite terçã      
Pra bordejar            


Na borda torta
Do lago imenso      
Afoguear
Estrelas vãs


Aluamento
Por dois silêncios:
Único afã
Borbulhar!




(Cris de Souza)

domingo, 4 de setembro de 2011

Haicais de vez em quando


Os avoados


entre o pássaro
e o ninho passa
um moinho de versos

.


Ferroada


caia a cera
das abelhas
que der na telha 

.


Desregra a lenda


desce o tinto
enquanto bacco
sobe os labirintos

.



Demarcação 


o espaço marca
o descompasso das horas
vagas de estrelas

.


(Cris de Souza)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Trilogia desnorteada ou três poemas perdidos


I.

que perigo
há na solidão
em relação
aos demônios
que te beijam
as mãos?


II.

na direção
dos montes
que te escondes
pássaros negros
tentam a sorte:

- fogem às claras
da morte!


III.

saber resta
que ponte levadiça 
se atravessa na poesia
pra imobilizar 
o passo da agonia

(...)


(Cris de Souza)


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Poema de poro aberto

(Salvador Dali)



É de voragem o sol
Que nos devora
E na pele arvora  
O sono de felino
Nessa cinza morna
Se transtorna  
A respiração de tigre
Nas dobras do destino        
Que amiúde atinge        
A sede  do imo    



(Cris de Souza & Wender Montenegro)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um Poema de Ferro nas Mãos de Cronos

 (Goya, Cronos comendo um de seus filhos)



suspeitas
que por falta
de sangue frio
ou de muito soro
em tuas mãos
não morro?
só corro
entre a omissão
das horas
e  o tic-tac  
dessa  pronta           
memória
a cortar o tempo
na  demora das macas:
- antes do ‘coma
seus  filhos vivos’
trago a faca!


(Cris de Souza)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

domingo, 24 de julho de 2011

Haicais de Frente e Verso


I.

Sombra de pássaro
De frente acende  
A luz do verso      



II.

É de sal e estrela
Do mar a onda           
Que lambe o olhar



III.

O oásis se aproxima
Longe se vê
Que a sede é sina



IV.

Língua de fogo:
Todos os dragões
Rimam com sopro



V.

Linha cara leva jeito
Pra dar nó
No pobre poema do peito   



VI.

Tu colhes gargalhada       
Eu, cultivo riso        
Ai de nós plantar juízo!    


(Cris de Souza)   
VII.

Nó cego se avista
Esperto desaperto
Nós em desassossego




VIII.

De frente e verso
Tridimensional
Universo




IX.

Versos acesos,
Dragões sorrindo ilesos,
Derretem o juízo